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A Luta do Samurai contra o Cowboy e os nossos Egossistemas


Este duelo acontece sob o nascer do sol de um mundo cada vez mais virtual, acelerado e barulhento.
Duas figuras pisam na areia quente sob um deserto cibernético e se encaram de longe, imóveis, prontos para sacar do bolso sua mais recente versão de smartphone e sistema operacional.

Está em jogo o destino de milhões de dólares e bilhões de usuários.
Não é a primeira vez que se enfrentam nem será a última. Nesta batalha, à medida que outros inimigos foram deixados para trás parece que o ódio entre eles aumentou.

A questão deixou de ser uma mera disputa tecnológica ou de marketing.
É um combate de estilos e civilizações.

O antigo cowboy confia na sua habilidade única, sempre foi e sempre se achará o melhor que todos. Sua força está na sua própria independência. Faça você mesmo é o seu lema.

O samurai passou por anos de cópia e aprimoramento com uma tradição milenar de cultura da paciência e da perfeição.

Um é caçador nato, desde os tempos primitivos. O outro traz o instinto coletivo dos agricultores.

O sol se põe e continua a nascer de novo e os dois vão trocando de armas e intercalando ataques ou manobras defensivas.

Os louconsumidores de cada um – como torcedores fanáticos – acirram a guerra e não percebem que estão dentro de uma armadilha.

Como usuários não estão lutando mais por países ou ideias mas por causa da tecnologia.

Enquanto isso, independente do vencedor, os nossos egossistemas vão sendo mais e mais rastreados e dominados.

Estes poderosos aparelhos recolhem todas nossas informações e prendem cada vez mais nosso tempo e atenção nas redes sociais e na vida on line.

Estamos ficando com a memória mais instantânea e vaga. Trocamos de atenção de forma frenética. Quase não existe pausa.

A filosofia oriental já nos alertava, na realidade tudo é ilusão.
Neste novo mundo tudo é intenso e rápido, mas vazio.

Podemos agora nos tornar mais dependentes do que nunca. E também menos comunicativos, menos reais, menos criativos. Aplicativos de todos os tipos tomam o lugar de nossos cadernos, fichas, blocos, telas, instrumentos, objetos úteis e de valor.

O duelo já está sendo travado dentro de cada um e poderemos ser facilmente dominados
Não é a escolha do cowboy ou do samurai quem definirá o vencedor.

Parece mais uma cena de uma antiga história contada ao inverso:
O mais moderno smartphone é o espelho que nos domina e ao invés de responder pergunta:
- Existe alguém mais belo do que eu?

@robertostes

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